terça-feira, 4 de setembro de 2018

Éssepê que me pariu

Viver em São Paulo esta cada dia mais difícil, ainda mais quando não fechamos os olhos diante de tanta frieza que nos cercam, as pessoas cada dia mais vaidosas arrancando cabeças de quem for em nome do ego, o “ EU PRECISO APARECER” esta cada dia mais evidente, não se tem camaradagem, amor então, passou correndo daqui.

Viver com o coração exposto pulsando na marcação do desespero e a city grande pulsando dinheiro, e nós os relis mortais sem um puto pra glamouriar por aí.
Viver mentira! Assim que ando se sentindo facebook, no lodo da mentira de que ta  todo mundo junto e que o paraíso é para todos, em SP a gente só corre, socorre a gente mesmo, tira o seu da reta que o meu trator vai passar por cima. E quem é mais bonito, quem aparece mais, quem grita mais quem mais tudo mais vazio fica.

Chegamos num ponto de achar que sonhar é a pior burrice, e eu quando era mais menina achava que eu ia ter varias coisas pra viver bem, viajar, conhecer, cantar, falar poesia, enfim a cidade grande só corta nossas assas, e mesmo com as assas quebradas a gente vai tentando alçar voo e cada tentada tem um muro gigantesco pra dar de cara com ele,
E ninguém vive inocente na vida, a gente sabe onde pisa e no calo que pisa, então nunca ta bom, eu poderia desabafar ou me afogar nas palavras e sempre o que escolher vai ser o que é melhor pra mim não para ninguém, onde tem solidariedade nisso?

No fundo somos todos egoístas sem massagem, selva e pra quem suporta não pra quem quer e eu suporto o peso dela todo dia.
Tristeza é companhia certeira pra quem tem um pouquinho de fantasia  no coração mas passa, e a beleza da vivência nessa cidadezinha de meu deus ta passando depressa.
To em pânico com a cidade, com as pessoas e comigo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Tenho um Blog!

Hoje chegou uma notificação no email para arrumar algumas configurações do blog e tals, daí eu nem lembrava tanto que eu tinha um blog, e lembrava menos ainda de mexer em configurações, ignorei a manhã inteira esse fato, até agora de noite, após um dia produtivo de atividades pelo sarau, abri o computador e vim fuçar no blog.
Engraçado que semana passada após uma conversa com Miriam Alves, fiquei pensando no que eu estava fazendo de relevante na literatura... Pensei no que eu escrevo, quando escrevo, se isso me sacia, me faz gozar, eu fiquei e estou com mil e todas indagações ao meu respeito, até chegar numa conclusão óbvia que eu deveria parar com tudo, inclusive de fazer pose pra uma coisa que não carrega glamour nenhum. Eu posso ser um destaque na minha vila Santa Terezinha, na minha família, um destaque de mulher preta que escreve e que conseguiu publicar um ou dois livros, isso por muito tempo foi um orgulho pra mim, mas a onda de se destacar e usar todo esse fardo ao meu favor pra conseguir voar junto com abutres me brochou e eu não consegui criar essas asas.

Minhas asas se deram quando rompi comigo e com a ansia de querer ser e estar na fina passarela da representatividade, mas pra isso eu teria que contar mentiras, e eu desisti, prefiro ser mentirosa só na literatura, na vida, ja me basta as mentiras que vivo.
Isso não faz de mim uma pessoa melhor, só me faz a Raquel, que não sustenta ser um personagem, uma mulher, mãe de pré adolescente, desempregada, que ainda sonha, mesmo sabendo que sonhos não enchem barriga e nem paga aluguel. Eu desenrolo pouco, poderia me dedicar mais a escrita, eu tenho mil coisas na cabeça, sou daquelas que fantasia, constrói na cuca as frases, os parágrafos, os enredos, rio sozinha das estórias que crio, eu sou meu HD. O livro matéria pra mim será sempre uma consequência, daí se diz, não se faz escritor sem escrever ou sem publicar livros, a sorte é que eu transito em lugares e com pessoas que me legitimam mesmo sem esses artefatos.

Pensando também que está aqui(blog) é uma ferramenta ultrapassada que ninguém acessa, decidi usar novamente esse recurso pra escrever um pouco, não abandonando o bom e velho caderninho de sempre, sabendo que tem coisas que ficaram só na tinta da caneta mesmo.
Penso que o meu caminho pode ser o inverso de tudo que está posto, e não será a primeira vez que andarei na contra-mão, tudo é vivo e latente, independente das vias que escolhemos trilhar, e se o caminho é meu, farei do meu jeito rústico de sempre. É como se dar novas chances, e eu estou na cota de se permitir sem sobrecargas, e num dialogo constante comigo de como sobreviver nesse universo.
Talvez amanhã, ou depois de amanhã eu volte aqui na tela e escreva mais, ou me volte ao caderno cheia de varias outras inquietações, isso será minha fórmula, aquela, mágica, que ninguém bota fé, mas que eu sigo procurando, que sabe um dia encontre.

Raquel Almeida

quinta-feira, 15 de março de 2018

Sobre o Sol da Desigualdade







Hoje nem acordamos, ficamos em alerta porque o dia foi pesado. De manhã os noticiários retrataram a greve dos professores que se deu em repressão militar e alguns tantos feridos. Ver as cenas de professores ensanguentados, apanhando da policia foi indigesto. Fiquei aqui no meu casulo sentindo rasgar as asas, escrevi pra uma amiga professora que estava no ato, ela chegou em casa bem porem preocupada por ela e pelos demais professores que não arredam os pés das ruas.

Porém, logo em seguida, as redes me deram a noticia que Marielle Franco havia sido assassinada a tiros no estado do Rio de Janeiro depois de ter participado de uma mesa chamada “jovens negras movendo as estruturas”.
Marielle, mulher preta, de periferia, mulher que revidava as investidas do governo contra as vidas pretas. Coincidentemente, esse assassinato acontece no considerado “mês” das mulheres, pensar num mês com tantas “homenagens” e “lutas” não me estranha que uma mulher preta tenha sido brutalmente assassinada nesse período, parece um que estamos sobre aviso.
Vivemos em alerta o tempo todo, assombradas por uma legitimidade que o estado sempre teve de nos matar, e nessas horas reforço a reflexão que venho tendo a anos, enquanto nós mulheres, homens, trans, e etc, continuarmos gastando energia com preocupações superficiais como quem queimou mais sobre o sol da desigualdade, sobre quem tomba e quem fica de pé, sobre qual rótulo devemos seguir pra obter reconhecimento, as nossas continuaram sendo mortas a cada dia diante dos nosso olhos virtuais.
Eu temo que caia no esquecimento, como tantas outras caíram e ressuscitarão agora por essa fatalidade, temo que caia na ladainha da militância facebookiana, na historinha que somos por todas e lutaremos por todas. Temo mais uma ser morta pela policia, temo minha vida, a vida da minha filha, das minhas amigas, pelas vozes que não se calam. Não temo a morte, temo a forma que nos matam e nos esquecem, e não é gloria pós uma morte trágica que merecemos. Marielle, Luana, Claudia, os jovens da cabula, joquielson e tantos outros se foram, e se nós lutamos pouco por quem se vai imagine por quem fica.
O sentimento que tenho nesse momento e de impotência, e nós ainda assim, queremos viver pra almejar bons dias, tem de haver unidade nos diversos gritos espalhados pelos quatro cantos, senão continuaremos sendo dizimados nesse holocausto em que vivemos. 
O genocídio está sendo cada vez mais eficaz contra nós, morre militante, morre um muleque que mal começou a viver, morre a dona de casa, morre a lésbica, morre o universitário, todos tendo em comum a pele preta ou quase preta por assim dizer.
Eu não conheci Marielle pessoalmente, não era minha amiga, nem trocávamos figurinhas sobre a atual conjuntura política do Brasil, mesmo assim, me senti morrer, me sinto morrer toda vez que uma noticia dessa chega, e me sinto morrer conforme as coisas vão se naturalizando, ela era importante, é mais uma voz calada e devolvida ao mar de sangue que nos rodeia nesse navio negreiro que ainda nos enfiam.

Raquel Almeida

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Estou de mudança





























Estou de mudança

E não é só  de casa, de móveis
De hábitos 
Mas perco o foco
Hoje por exemplo estava no ônibus
Pensando no que tenho que comprar
Organizar, pensando na minha falta de dinheiro pra tanto de coisa que tenho que resolver com ele
Mas aí
Vidrei numa menina negra, no farol pintada de palhaça
Fiquei tentando imaginar qual seria a sua história 
A pintura tinha aquelas lágrimas caída dos olhos de palhaça triste
E ela, por toda postura corporal demonstrava tristeza e desespero
Perdi o fio da meada, das coisas que estava listando pra fazer
Quando recuperei, fiquei desesperada...
Bateu a certeza que não vou conseguir fazer nada planejado,
Eu tenho listas extensas dentro se mim do que me propus a fazer um dia
Tenho espelhos quebrados que refletem meus pedaços de todas as vezes que a baixa estima me consome
E hoje foi um desses dias
Que não tive vontade de levantar da cama
De se olhar nesses espelhos e me sentir horrível de dentro pra fora,
Estou de mudança?
Ou esses fantasmas todos vão me acompanhar até não ter mais pra onde correr
Eu jurei não me submeter ao um monte de coisas
 e mexe e vira e estou la
Esquecida de mim em alguma encruza
Temo uma mudança não ser suficiente , temo desespero, temo me perder nas minha bagunças
Lembro desde criança minha mãe me cobrando uma organização que nunca alcancei
Lembro ter sonhado
Almejado meu canto
Meu sossego
E hoje só sou um tanto do que quis
Um tanto mínimo
Estou de mudança de mim
Estou trocando de pele
Sinto arder
Sinto minha vida toda 

Passando pelos fios dessa pele que cai.